Por Crescer
- atualizada em 09/12/2013 17h04
Meigos, fofos, encantadores e saudáveis. A maioria dos quase três
milhões de bebês que nascem anualmente no Brasil são assim. Mas cerca de
100 mil, segundo dados do Ministério da Saúde, apresentam anormalias do
nascimento. A grande frustração dos médicos é que medidas simples
poderiam tornar esse número bem menor. “Só o fato de a gestante tomar um
suplemento de ácido fólico previne em até 70% as malformaçõesdo tubo
neural, que podem causar algum tipo de paralisia”, assegura o obstetra
Victor Bunduki, especialista em medicina fetal e autor de uma tese sobre
o assunto.
“Exames de ultra-som na gestação são capazes de detectar
cerca de 95% dos problemas e alguns podem ser corrigidos antes do
parto”, completa a radiologista Ana Paula Moura. A empresária Elen Grave
Missaglia, 35 anos, já fez quatro ultra-sonografias, quase uma por mês
de gestação. “Estou terminando o quinto mês. No início da gravidez, fiz
uma para ver o tempo de gestação e outra que detecta a síndrome de Down.
Na 18ª semana fiz uma que checa a anatomia do bebê e outra de rotina.
Está tudo ótimo. Acho essencial que esse acompanhamento pela saúde do
meu filho e pela minha tranquilidade”, diz Elen. Pelo mesmo motivo, a
professora Patrícia de Mattos Medeiros cumpriu toda a rotina de cuidados
médicos na gravidez e agora faz o mesmo com as consultas pediátricas da
filha, que tem 7 meses. “Vamos lá todos os meses, desde que a Marina
nasceu, mesmo que ela não tenha nada. E se tiver, o problema será
resolvido logo.”
Ajudar seu bebê a nascer o mais saudável possível é a melhor razão para
não deixar de lado cuidados e exames médicos. Quem tem a chance de
planejar uma gravidez com antecedência ganha pontos com duas medidas
básicas. A primeira é aumentar a ingestão de ácido fólico antes da
concepção, mantendo-a na gestação até a 12ª semana. Peça ao seu médico
um suplemento com essa vitamina para evitar problemas neurológicos no
bebê. A segunda providência é realizar a bateria de exames
pré-concepcionais, que avaliam seu histórico de saúde. Elen tomou todos
os cuidados preventivos. “Como decidir ter filhos mais tarde e minha
idade já poderia ser um fator preocupante, resolvi afastar as
possibilidades de problemas. Entrei na gravidez sem riscos”, diz.
Um ultra-som examina o aparelho reprodutor e exames sorológicos
pesquisam a imunidade contra doenças como rubéola, toxoplasmose e
citomegalovirose. Quando acontecem durante a gestação elas podem
infectar o feto causando problemas de visão, retardo mental, defeitos
congênitos e até a morte. Se eles dão positivo, ótimo. Significa que
você já tem anticorpos contra as doenças. Se derem negativo, há muitos
recursos para proteger seu bebê. Para a rubéola, por exemplo, basta
tomar a vacina, aguardar um tempo e repetir o exame sorológico para
verificar a imunidade. A toxoplasmose é prevenida com medidas simples:
evitar o contato com fezes de gato e terra, o consumo de ovos e carnes
cruas e lavar as mãos sempre. A citomegalovirose tem manifestações
iguais a de qualquer doença viral – febre e dor no corpo e não pode ser
prevenida com vacina. No entanto, se o médico sabe que você não teve a
doença e os sintomas aparecem na gestação, ele checará o problema e
poderá curá-lo, evitando que o bebê se contamine.
Os exames pré-gravidez também acusam se você tem sífilis, hepatite B ou
o vírus da Aids, entre outras doenças transmitidas sexualmente. O teste
para HIV não é obrigatório, mas os médicos devem oferecê-lo. Sem
cuidados as doenças afetam o bebê. A sífilis pode causar abortos
tardios. A hepatite B raramente chega ao feto, protegido pela placenta,
mas preocupa no parto. “Se a mãe tem hepatite, diminuímos o contato do
bebê com o sangue dela na hora do parto e vacinamos o recém-nascido”,
diz o obstetra Abner Lobão, da Universidade Federal de São Paulo.
O mesmo ocorre se a gestante é portadora do vírus da Aids. “Mantendo a
carga viral dela pequena e tomando cuidados no nascimento, conseguimos
diminuir de 15% para 2% o risco de a criança contrair o vírus”, informa a
chefe do ambulatório de pré-natal do Hospital das Clínicas, Rosa Maria
Ruoco.
Quanto mais cedo você souber que está grávida, melhor. “Isso garante
que a mulher não corra o risco de fumar, beber e de tomar medicamentos”,
explica Lobão. Esses cuidados devem continuar até o fim da gestação já
que podem causar desde partos prematuros até problemas mentais. Para a
Organização Mundial de Saúde, um pré-natal correto abrange consultas
mensais com o obstetra até a 28ª semana, quinzenais até a 36ª e semanais
daí para a frente, fase em que se encontra a engenheira Anete Marinho
Koitla, 37 anos, prestes a se tornar mãe de Gabriela. “Estou quase no
final, com 39 semanas. O médico já me avisou que se a Gabriela não se
manifestar até a próxima semana, podemos pensar numa cesárea, mas acho
que ela vem logo, não será preciso.”
Na primeira consulta o médico deverá repetir os exames
pré-concepcionais, investigar com detalhes os antecedentes familiares de
doenças e solicitar exames de rotina, como sua tipagem sanguínea. Esse é
o um procedimento importante, pois se o fator Rh do seu sangue for
negativo e o do seu marido positivo, há a chance de o seu bebê ser
positivo e isso pode causar problemas em uma segunda gravidez. Isso
porque seu organismo vai desenvolver anticorpos contra o fator Rh
positivo. Se o próximo bebê tiver esse mesmo tipo de sangue, ativará os
anticorpos, com risco de desenvolver malformações. Para evitar a
situação, um exame deve ser feito para detectar a presença de
anticorpos. Se ele der negativo, uma vacina impedirá sua produção,
prevenindo problemas.
Fora as solicitações de exame quando necessárias, a rotina da consulta é
a mesma até o fim da gestação: o médico verifica seu peso e pressão
arterial, mede o crescimento da sua barriga e ouve os batimentos
cardíacos do bebê. Também faz recomendações para proteger a saúde do
feto, como largar o cigarro, não abusar do álcool, não se auto-medicar,
evitar exposição aos raios X, controlar alimentação e manter atividades
físicas, segundo o ginecologista e obstetra Maurício Abrão, professor da
Universidade de São Paulo.
O profissional encarregado da saúde do bebê após o nascimento é o
pediatra neonatologista. Sua presença é obrigatória na sala de parto,
segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria. Ele realiza os primeiros
exames no recém-nascido para verificar seu estado geral e a presença de
infecções congênitas. Também faz o teste de Apgar, dando notas para as
principais funções do bebê. Quanto mais cedo souber dos problemas, maior
a chance de corrigi-los.
No berçário são realizados exames. “Os bebês recebem uma vacina de
vitamina K para evitar problemas com a coagulação do sangue e um colírio
à base de nitrato de prata para prevenir problemas de visão”, diz o
neonatologista do Hospital e Maternidade Santa Joana, José Claudionor da
Silva Souza. Além disso acompanha-se a icterícia, que é um sinal normal
da evolução do metabolismo da criança e está presente na maioria delas.
Em geral, começa no segundo dia de vida e após uma semana já
desapareceu.
Depois de 48 horas do nascimento do bebê é submetido ao teste do
pezinho. Os bebês não devem deixar a maternidade sem fazer o teste.
Pagando à parte, pode-se pedir teste ampliado, que diagnostica outras
doenças. A maioria das maternidades também faz a avaliação auditiva do
recém-nascido.
Após dez dias, o bebê deve visitar o pediatra pela primeira vez. O
médico apalpa seus órgãos, verifica peso e altura, mede o perímetro
cefálico, testa reflexos que indicam a saúde neurológica da criança e dá
orientações sobre a amamentação. Depois dessa avaliação inicial, as
visitas são mensais até o bebê completar o primeiro ano. “Vendo a
criança uma vez por mês conseguimos acompanhar seu crescimento,
controlar seu calendário de vacinações, fazer a prevenção de acidentes
domésticos e detectar qualquer problema logo no início”, esclarece
Gelsomina Colarusso, pediatra do Hospital e Maternidade São Luiz.
“Converso bastante com a pediatra de minha filha e sigo direitinho
todos os conselhos. Parece até um exagero pois Giovana só tem 20 dias”,
diz o engenheiros Satoshi Morita. Não é exagero. Cuidar da saúde nunca é
demais. Porque problemas de criança que não foram detectados na
gravidez e no parto podem aparecer nos primeiros anos de vida, às vezes
com manifestações que só o médico é capaz de observar. Há síndromes que
causam um atraso tão sutil no desenvolvimento que podem ser confundidas
com problemas emocionais.
Pneumonias recorrentes, por exemplo, podem indicar fibrose cística,
doença caracterizada por um aumento de secreções no organismo, que afeta
principalmente o pulmão. Ela só é detectada no teste do pezinho
ampliado, que não é gratuito nas maternidades, dificultando o
diagnóstico dos casos. Daí a importância do acompanhamento pediátrico. A
identificação precoce de problemas como esse melhora a condição de vida
da criança atingida e também alerta os pais para o planejamento de uma
nova gravidez.
O calendário dos ultra-sons
Os exames com ultra-som são imprescindíveis para mostrar o
desenvolvimento do bebê. São recomendados pelo menos quatro durante a
gravidez. O primeiro, feito assim que sai o resultado positivo, data a
gestação e detecta se ela acontece dentro do útero. Por volta da décima
semana, o segundo checa o desenvolvimento do bebê, e nessa oportunidade,
o médico pode fazer um exame complementar, de translucência nucal, que
aponta por meio da medida da nuca do bebê as chances de más-formações
decorrentes de problemas cromossômicos, como a síndrome de Down.
Dependendo do resultado, o casal pode decidir por uma investigação mais
detalhada, com exames como a biopsia do vilo corial, a amniocentese e o
chamado doppler de ducto venoso, que analisa o fluxo de sangue que passa
na região do fígado e indica más-formações cromossômicas.
O terceiro ultra-som básico, o morfológico deve ser feito por volta da
vigésima semana. Ele verifica a anatomia do feto, medindo desde as
distâncias entre as pupilas e tamanho dos ossos até a formação dos
lábios. O quarto vai acontecer entre a 34ª e 36ª semana, para estimar o
peso e a posição do bebê, se a quantidade de líquido amniótico está
normal e se o desenvolvimento continua correto. Depois disso é
recomendado realizar exames semanais para tentar datar o parto.
Esses exames são importantes porque a medicina fetal pode resolver
alguns problemas no bebê antes de ele nascer. Uma compilação no sistema
urinário, por exemplo, pode ser resolvida com um cateter na bexiga do
feto para mantê-la funcionando. Isso evita o comprometimento dos rins.
“Dependendo do caso podemos usar a mesma técnica para curar uma
hidrocefalia, realizando uma drenagem cerebral”, diz o obstetra Eduardo
Zlotnik, especialista em medicina fetal.
Além, é claro, de verificar a saúde dos bebês, os exames de ultra-som
também mexem com as emoções dos pais. Por isso muitos vão à procura das
versões 3D e 4D, que permitem visualização mais completa do feto, com
imagens em tempo real, captando o bebê em movimento. Enquanto alguns
médicos acham que as novidades ainda não são efetivas para a medicina,
apenas alegrando os pais, outros acreditam que elas complementam o
ultra-som convencional. “Em casos de anomalias mais complexas, essas
versões de última geração do ultra-som oferecem melhor compreensão das
imagens”, diz a radiologista Ana Paula Moura. “Ver os movimentos do bebê
também é importantíssimo para observarmos o seu desenvolvimento”,
completa Antonio Fernandes Moron, obstetra da Maternidade Santa Joana
que opera o aparelho de 4D.
Fonte:
Crescer